quarta-feira, 1 de julho de 2009

Universal e Particular

Aristóteles, na sua conhecida obra "Poética", afirmou que "a poesia é mais filosófica e séria do que a História, pois aquela fala principalmente do universal e a História, por vez do particular." Por 'universal', na obra de Aristóteles, se entende como o que determinado indivíduo dirá ou fará das coisas segundo a verossimilhança ou necessidade; sendo esse mesmo o propósito da poesia: acrescentar aos devidos nomes às suas personagens. Já por 'particular' se trata do que fez e pelo que passou o indivíduo."
Quando Aristóteles, de certa forma, descartou a universalidade da História, certamente estava entre aqueles que, muitos tempos depois, Darnton referiu como "o público", no seu desabafo, em "O Beijo de Lamourette". Segundo Darnton, "os historiadores voltam desse mundo como missionários que partiram para conquistar culturas estrangeiras e retornam convertidos, rendidos à alteridade dos outros." De acordo com o pensamento de Darnton, quando retomamos (historiadores) a "nossa rotina diária, às vezes contamos entusiasmados nossas histórias ao público. Mas poucos param para ouvir. Como o velho marinheiro, falamos com os mortos, porém temos dificuldade em nos fazer entender entre os vivos porque para eles somos maçantes."
De fato, é assim que me sinto: maçante. Exatamente como um velho marinheiro ao mar, no balanço das águas e nos rumos dos sopros, ou suspiros, do vento.
Quando despida da 'universalidade' dos fatos envolvo-me na fina roupa íntima e 'particular', trancafiada à mais absoluta redução, privada das palavras mas nunca das sensações.
De nada vale exteriorizar em versos, e referir personagens, num épico drama ou êxtase de realidades. Prefiro meu real, já que sei que no mundo inteiro existe a mesma dor e alegria, todos os tempos. O que discordo de total maneira é que não possa ser o contrário. Asseguro que Aristóteles concordaria hoje, mesmo que relutante, com as possibilidades de ambas, Poesia e História, tratando do que fez, passou, alem das verossimilhanças.
É no íntimo e privado que precisamos dar o referido título de personagem, já que o que encanta a poesia é o justo, ou impróprio, intimismo para, então sim, num segundo momento, possibilitar a qualquer continente a sua particularidade de sentimento humano, seja no sucesso ou no fracasso. Seja no amor, seja na crise economica, ou nas guerras por expansão e religião. Enfim, para que, em qualquer desconforto ou estado de graça, seja em uma centelha atemporal, universal ou particular.
Na História é assim: o herói sem chão, desconsolado com a derrocada de seu reino, o operário desmoralizado, idealizando um dia possuir riqueza, mesmo sem pão.
Como o repouso sem glória após uma luta insustentável, assim são os amores da poesia, como são as guerras da História.
Estou certa das universalidades e certa das particularidades de ambas. Estas, de fato, existem e não cabe ao poeta, ao filósofo, ou ao Historiador apontar de quem será o direito de narrar, argumentar, fabricar ou qualquer verbo sinônimo de exteriorização. Quem melhor pode fazê-lo é quem vive, quem sente e quem, se não vive ou sente, é capaz de sensibiliza-se com as faces abstratas ou concretas da vida.
"La vida es sueño" já dizia o poeta. Ela é ambiguidade e dicotomia. Poesia, história, filosofia, matemática, física e tudo que cabe nela. Poesia é arte, História é arte e, por isso, universais e particulares, de todos, para todos, e como a vida, são tudo que cabe nelas.

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