quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Charlie Brown e a Garotinha Ruiva... novamente...

"...dois dos vídeos mais bacanas de Snoopy. Um deles mostra uma cena que jamais aconteceu nos quadrinhos desenhados por Charles Schulz: o dia em que Charlie Brown beijou a garotinha ruiva. O outro... flagra um momento em que Minduim, segundo seu amigo Linus, faz papel de bobo por causa da sua musa. Que puxa! Quem, na condição de apaixonado, nunca vestiu essa carapuça?

De todas as criações de Charles M. Schulz, nenhuma me foi tão marcante quanto a garotinha ruiva, símbolo-mor de todos os amores idílicos e nunca concretizados.

Pobre Charlie Brown. Todos nós sentimos compaixão por ele, porque ele simboliza todas as nossas frustrações, inseguranças e fracassos na vida.

O que dizer de alguém que não recebeu um cartão sequer no Dia dos Namorados, jamais conseguiu fazer voar uma pipa porque todas enganchavam em alguma árvore, nunca ganhou um jogo de beisebol (e nem conmseguia chutar as bolas seguradas pela Lucy) e, principalmente, jamais teve coragem para falar com a garotinha ruiva e confessar o seu amor?

Questiona Charlie em uma das tiras dos Peanuts: "mas o amor não existe para fazer a gente feliz?" Nem sempre, Minduim, nem sempre. Que o digam as angústias caladas, os sentimentos represados, as inseguranças que atormentam uma pessoa enredada pelo vórtice da paixão. Tal como na Quadrilha de Drummond, os personagens de Schulz sofrem com amores não-correspondidos. Sally ama Linus que ama sua professora; Lucy ama Schroeder que ama Beethoven; Patty Pimentinha ama Charlie Brown que ama a garotinha ruiva. E, assim como Linus aguarda em vão pela chegada da Grande Abóbora(nos mesmos moldes da espera de Estragon e Wladimir por Godot), a turma do Snoopy ama infrutiferamente. Nós, que somos leitores e espectadores voyeurs da obra de Schulz, rimos com suas histórias. E, no entanto, esse sorriso é banhado por melancolia, porque todos nós já tivemos um momento Charlie Brown em algum instante de nossas vidas.Snoopy, tentando fazer (sem sucesso) seu dono esquecer da garotinha ruiva.

Quem acompanhou as histórias de Snoopy e sua turma através dos desenhos exibidos na Tv pode questionar: ué, mas Charlie não chegou a beijar a garotinha ruiva uma vez? Sim: foi no especial para a TV "It's Your First Kiss, Charlie Brown", produzido em 1977. Contudo, vale a pena ressaltar que ela jamais foi mostrada em uma tira sequer (a não ser por meio de menções feitas por outros personagens), e que sua aparição no desenho animado foi realizada à revelia de Schulz. A propósito, os produtores do programa deram até mesmo um nome para a garotinha ruiva: Heather.

Para os puristas, essa aparição é apócrifa e completamente oposta ao espírito original da personagem. Afinal de contas, como nomear ou dar face ao Mistério? Porque a garotinha ruiva nada mais é do que a metáfora daquele amor idílico que perseguimos na juventude: aquele amor que jamais terá rugas ou saldo negativo no banco... e que permanecerá para sempre... perfeito em nossos sonhos platônicos.

P.S. 1: "Snoopy, Eu te Amo - O Amor em Forma de Tirinhas Apaixonadas" é uma antologia das tiras sobre o amor (e suas incertezas) de Charles Schulz, artista que, de 1950 a 2000, criou cerca de 17 mil tiras, todas elas escritas, desenhadas e arte-finalizadas por ele mesmo. A propósito, vale a pena transcrever uma declaração que Schulz fez sobre o tema do livro: "There's something funny about unrequited love - I suppose it's because we can all identify with it. We've all been turned down by someone we love, and it's probably the most bitter blow in life".

(trechos, por Alexandre Inagaki)

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